Entrevistas


Entrevista a Élio Nascimento

Estivemos à conversa com Élio Nascimento, árbitro de categoria C5 e árbitro assistente de C3N2 de Futebol da Associação de futebol da Guarda.


NAFGuarda- De que forma surgiu a arbitragem na tua vida?
Foto de Élio Filipe.Élio Nascimento - A arbitragem surgiu na minha vida de uma forma muito estranha. Sempre gostei de jogar futebol, mas tive de abandonar, pois o serviço militar obrigatório interrompeu a minha carreira de futebolista. Após a minha saída do serviço militar obrigatório tentei voltar a jogar, mas não me foi possível porque o clube da minha formação estava a apostar em jogadores formados noutros clubes. Um dia fui assistir a um jogo treino na minha terra, a equipa de arbitragem era composta pelo árbitro e um árbitro assistente, faltando um elemento. Como a maioria das pessoas que iam assistir ao jogo já tinham alguma idade, os dirigentes da equipa visitada vieram falar comigo e perguntaram-me se queria ir fazer de assistente, respondi prontamente que “não”, pois não entendia nada de arbitragem. Os árbitros em questão disseram que não era nada demais e que só ia levantar a bandeirola para um lado e para o outro, fazendo o gesto oposto ao que o árbitro principal ia fazer. Durante o jogo estive sempre muito nervoso e errei algumas situações, porque não sabia o que fazer. No final do jogo os dois árbitros deram-me os parabéns e convidaram-me para ir tirar o curso, pois disseram-me que tinha muito jeito. Disse que ia pensar e só passados 3 anos é que abriu curso de árbitros, sendo que prontamente me inscrevi, porque após o tal jogo algo ficou a mexer comigo e achei que era uma boa oportunidade de continuar ligado ao futebol e assim continuo vai fazer 16 anos.

NAFG- Iniciou-se há pouco tempo a nova época 2016/17, quais os teus objectivos?
EN- Os meus objetivos para esta época são muito elevadas, porque o novo regulamento de arbitragem permitiu-me a integração numa equipa, que esta época tem arbitrado jogos dos campeonatos nacionais da Federação Portuguesa de Futebol. Estou a trabalhar afincadamente para merecer a confiança depositada em mim pelo meu Líder e mostrar que tenho qualidades para desempenhar as funções que me têm sido confiadas. Zelarei pela aplicação das leis de jogo, bem como instruções e informações transmitidas pelo meu Líder e pelo outro colega assistente. Não virarei a cara à luta e vou fazer tudo para honrar o bom nome do meu Líder, colega assistente e o nome da nossa Associação de Futebol da Guarda.
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NAFG- Quais os momentos mais marcantes na tua carreira, positiva e negativamente?
EN- O momento que mais marcou pela positiva foi a minha estreia num jogo do nacional como árbitro assistente. Sempre ambicionei arbitrar ou ser assistente num jogo do nacional, conseguindo esse fato ao fim de 13 anos de arbitragem. O momento que me marcou pela negativa foi durante um jogo do distrital de Seniores 1ª Divisão, onde era o árbitro e que foi realizado entre a Lajeosa do Mondego vs. Mileu Sport Clube. Onde o guarda-redes da equipa da casa ao socar a bola dentro da área de penalty, soca a cabeça do avançado não conseguido evitar o contato, fazendo com que o avançado se desequilibre e cai sobre o pescoço e entra em paragem cardiorrespiratória. Interrompo prontamente o jogo e dirigi-me ao jogador colocando-o em posição lateral de segurança e com a ajuda do enfermeiro do clube lhe prestamos os primeiros socorros. Passados poucos minutos conseguimos reanimar o jogador em questão que posteriormente foi conduzido ao hospital, sendo que não ficou com qualquer mazela. Não posso dizer seja negativo pois fiz o que qualquer cidadão faria numa situação desta natureza. É uma experiência que me marcará para sempre na minha carreira de árbitro.

NAFG- Como vês actualmente o panorama da arbitragem distrital?
ENA arbitragem distrital tem todas as condições para ser melhor e com cada vez tem mais valor, pois estão surgir muitos jovens que ambicionam e dignificam a arbitragem. Demonstram muita vontade de aprender e melhorar a cada semana de trabalho. Os centros de treinos são uma mais-valia para o distrital, pois todos os árbitros e jovens árbitros esclarecem as suas dúvidas e tentam aperfeiçoar as técnicas, movimentações, interação com os intervenientes nos jogos e as formas de abordagem aos jogos. Os jovens árbitros cada vez mais se preocupam em fazer um bom trabalho de casa, para depois nos jogos tudo lhes corra pelo melhor.

NAFG- Quais as principais diferenças que encontras nos campeonatos distritais, entre o panorama atual e o momento em que ingressaste na arbitragem? 
EN- Quando ingressei na arbitragem não existam tantas coisas como agora. À 16 anos atrás não existam tecnologias. Atualmente os árbitros e árbitros assistentes têm a sua tarefa muito facilitada. Lembro-me que quando iniciei a minha carreira, o árbitro tinha de andar sempre bem colocado e estar sempre atento aos meus assistentes, pois eles tomavam decisões cruciais e levantavam a bandeira a assinalar uma infração o qual teria de corresponder prontamente, porque o lance continuava e o assistente de bandeira no ar e a bola no interior da baliza, só depois é que via que que o meu assistente estava a indicar algo, para saber o que se passava corria até ele e perguntava. Perdia-se muito tempo com este tipo de situações. Atualmente existem inúmeras tecnologias que vieram facilitar o trabalho da equipa de arbitragem e melhorar de forma muito considerável o seu desempenho.

NAFG- Mensagem para os nossos leitores.

EN- Compreendo que não seja fácil para os amantes de futebol aceitarem as nossas tomadas de decisões, mas tentem colocar-se na nossa situação e tentem decidir como nós decidimos muitos vezes num ambiente que não nos permite a nossa melhor análise e rápida decisão. Na vida todos somos árbitros, queiramos ou não estamos sempre a decidir e por vezes passado algum tempo verificamos se tivemos tido mais tempo para tomar uma decisão, seria a mais adequada para aquela situação. As pessoas que lerem este meu comentário, sempre que estiverem a assistir a um jogo, tentem lembrar-se que o árbitro que anda ali a correr junto aos jogadores é um ser humano como eles, que erra como qualquer ser humano erra, que se priva da sua vida pessoal e familiar para fazer uma coisa de que gosta, que não questiona os jogadores quando os mesmos falham golos de baliza aberta e toma decisões em frações de segundos, que no seu entender são as mais corretas.